sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A cadeira vazia


         Para o homem público, ainda mais para aquele que se dispõe a concorrer a cargos eletivos, impõem-se direitos e deveres. É direito, por exemplo, que cada um deles tenha a força policial à sua disposição, sempre que isto se fizer necessário para que possam expor suas ideias, promover suas manifestações públicas e contatar diretamente com os eventuais eleitores.
            Não precisa que ele se eleja para que tais direitos lhe sejam assegurados. Basta para isto a sua condição de candidato, de aspirante a cargo de relevância administrativa na esfera do poder público.
      Pois bem, assim como há direitos, há também deveres. E para que esses deveres passem a valer não se faz necessário que a eleição se consuma. A própria condição de candidato impõe ônus de comportamento e decoro, além de outras exigências legalmente previstas.
    A obrigação com a transparência é um desses deveres a que os candidatos não podem escapar, seja na fase eleitoral, seja no exercício dos mandatos eletivos. Resumindo bem direitinho: quem quer ser governador do Estado – e, mais grave ainda, quem neste cargo quer permanecer – se obriga desde logo a ser transparente. A pautar-se por uma conduta que, em última palavra, permita ao eleitor saber exatamente o que ele pensa sobre os temas mais importantes de interesse da coletividade.
    A sistemática recusa do governador José Maranhão, em participar dos debates públicos que vêm sendo realizados ao longo desta campanha, o coloca em clara situação de confronto com esta obrigação inerente a qualquer candidato.
     Como todos os outros concorrentes, ele tem, sim, a obrigação de revelar ao eleitorado quais as suas prioridades, as suas opiniões e os seus principais projetos. Um candidato ao governo não pode ser uma caixa preta.
       A população que se utiliza dos serviços públicos de saúde quer saber o que os candidatos planejam para melhorar o atendimento. As vítimas dos assaltos, dos arrombamentos e os familiares dos assassinados exigem que lhes sejam apresentados, desde agora, os principais pontos de uma eventual política de segurança pública. Assim também ocorre com os que freqüentam escolas públicas. É obrigação dos candidatos dizer, não depois, mas agora, o que pretendem fazer para enfrentar todos estes desafios.
       A melhor forma de fazer isto é participar dos debates. O guia eleitoral por si só não serve. Afinal, trata-se de uma propaganda, cuidadosamente elaborada pelos marqueteiros, mas que, na verdade, não gera maiores compromissos para o futuro.
        O debate com os concorrentes, promovidos por entidades reconhecidamente de interesse público, é o ambiente adequado para isto. Sem falar nos debates patrocinados pelos veículos de comunicação.
     Participar de debates não é um favor que o candidato concede aos eleitores. É uma obrigação que não sendo cumprida sugere um sem número de especulações.
     Nos últimos dias, os evangélicos quiseram ouvir os candidatos ao governo da Paraíba, certamente para tomar conhecimento de questões que são caras à comunidade religiosa. Lamentavelmente, o governador-candidato não foi.
    Hoje, professores e estudantes da Universidade Federal da Paraíba também se prepararam para ouvir os candidatos. Lamentavelmente, Maranhão não foi. Presume-se que ele tenha tanto a dizer e, no entanto, o que se ouve é o seu silêncio.
   Por que isso? Os demais concorrentes não merecem sua audiência? Os eleitores não precisam saber o que ele pensa sobre educação, saúde e segurança, além de outros temas?
  Já entrevistei Maranhão dezenas de vezes. Não acho que lhe faltem conhecimento e habilidade para enfrentar qualquer tipo de assunto. Esse seu silêncio nos auditórios, em que a sua cadeira fica sempre vazia, só pode ser coisa de marqueteiro. A esta altura, ele já devia saber que existem assessores para o bem e para o mal.
   Os que estão recomendando a sua sistemática fuga dos debates não lhe ajudam a conquistar um mandato. Querem continuar em Palácio, mas abominam as eleições. O povo, para eles, é um mero detalhe.


Fonte: Coluna: Agnaldo Almeida http://www.politicapb.com.br

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